*"O ano passado
passou tão apressado
eu sei que foi um corre corre corre danado
o ano inteiro eu passei sem dinheiro
eu sei que foi um tal de segurar essa peteca no ar
como se fosse empinar papagaio

nem sempre tem vento
mas sempre tem jeito pra dar
quando se trata de vida ou de morte
e se não me engano
no próximo ano
vai vir aquela dose de cicuta que eu vou ter que engulir
como se fosse um suco de fruta
COMO SE FOSSE EU A GRANDE MALUCA

CORRE-CORRE-CORRE uuuuuuuuuuuu
CORRE-CORRE-CORRE aaaaaaaaaaaaa "
*Corre-corre Rita Lee



Voltei a trabalhar. Licença-maternidade de 120 dias. Amamentação exclusiva. Sem esquema certo pra ficar com meu pimpolho. Trabalhando de casa, levando Théo pra rua trabalhar comigo, colocando todos os serviços possíveis nos fins de semana pra Edu ficar com ele e dar meu leitinho.
Corre corre corre

Turbilhão

To no meio de um. Três meses do Théo, meu guri que nasceu tão calmo, sereno e feliz. Continua calmo, sereno e feliz. E eu volto a trabalhar daqui a um mês.
E descubro que minha vó, por descaso do resto da família (bleargh! que família?!!), terá que continuar na casa da minha mãe, e minha mãe teoricamente não poderá cuidar do Théo dos 4 aos 6 meses como a gente tinha programado. Isso pra mim, foi uma decepção. Algumas pessoas da minha família, apesar de já terem me decepcionado por este mesmo motivo, eram muito queridas, mas acabou. Não quero mais conviver com gente egoísta, na boa. Não vou me forçar a estar perto por que é família. DANE-SE. Família é quem a gente ama, gosta, e amar, gostar é sempre uma troca. As vezes a gente espera demais dos outros, e cada um só pode dar o que tem. Se você não tem amor na sua casa, como você vai dar amor pro outro? Simples assim. Elas não têm amor, não podem dar.
E no meio do turbilhão, o amor da minha mãe me surpreendeu. Vamos todos JUNTOS resolver esta pedra no caminho. Porque pra gente minha vozinha de 96 anos NÃO é UMA PEDRA NO CAMINHO! E vamos todos juntos abraçá-la, acolhê-la e SIM, cuidaremos todos nós dela e do meu menino Théo. Porque sim, somos uma família. Pena mesmo de quem não a tem de verdade.

a saga da baby look

Véspera do primeiro jogo do Brasil na Copa. Lembro que eu tenho uma blusa baby look de 4 anos atrás. êba, vou economizar, até porque não tô com nenhum pique e dindin pra comprar uma blusa nova e assim contribuir pros loucos desvairados do Saara, olha o maaaalte, dá vontade de gritar no meio do mafuá.
Então, tá, coloco a blusa pra lavar, antes deixo de molho pra sair o amarelado, credo.
Dia seguinte, em cima do jogo, vou pegar minha linda blusa da nossa querida pátria.
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Não entra nem com reza forte, nem com peitovaziodeleitedepoisqueotheomama.
A, gente, que isso, até que fica bonitinha, vamos nessa que já tá em cima da hora.
Vamos todos, familia tralheira subir a rua pra casa dos amigos.
Chegamos lá, eu puxando a camiseta pra baixo pra não aparecer a barrig(ona)uinha. Théo quer mamar. Levanto a blusa. Hein? Levanto a blusa. LEVANTO A BLUSA e o peito amassado, Théo querendo mamar, eu levantando a blusa e Théo mama meio peito.
Ai, céus. Ainda consegui aguentar um tempo de jogo. Segundo tempo e tava eu só de top e casaco por cima uauhuahauhauha
Definitivamente, baby look só pras gatinhas. Gatonas usam peitão cheio de leite ou NAO VOU EMAGRECER MESMO e ponto.

reinventando o dia a dia 2: escola

Dandara mudou de escola este ano. Tá numa escola que anda junto com o que a gente pensa, estamos todos bem felizes. E então ela estava desde fevereiro 3 dias o dia todo (de 7 às 17:30), e 2 dias no horário normal (de 13 às 17:30). Várias atividades legais pela manhã, o dia cheio. Ela chegava em casa exausta, quase todo dia dormindo. Você vai pensar: puxa, que ótimo, chega cansada e dorme! Pois é, este ERA o problema.
Dandara andava irritada, chateada, chorona, e muitos dias nem nos víamos direito, nem conversávamos, brincávamos, NADA!
Quando Théo nasceu, foi importante termos este horário, porque um recém-nascido requer atenção fulltime, e eu não poderia mesmo me dividir o quanto Dan precisaria e eu gostaria. As professoras do integral (parte da manhã) foram super companheiras nessa fase, acarinhando Dan, dando muito colinho, conversando sobre a chegada do irmão e todas as outras mudanças que passamos. Foi ótimo! Mas a gente aqui em casa sentia que não estava legal, não era isso que a gente queria.
E resolvemos que Dan ficaria no período normal da escola.
Então agora pela manhã é uma agitação! Uma correria doida, mas com a ajuda da empregada que vem 3 x na semana, eu posso dar atenção só pros meus pimpolhos, e da casa me sobra apenas uma loucinha ou outra. Os cuidados com os 2 a gente tá acertando, Dan já tá bem independente e eu tô adorando isso tudo!
Afinal, eu que sou a mãe de 2 lindos filhotes!
E o mais legal é irmos adaptando, recriando e sendo feliz, acima de tudo!

reinventando o dia a dia: Planos

Hoje é dia 08 de julho. Faltam 35 dias pra voltar ao trabalho. Meu coração já anda apertado.
Quatro meses é muito pouco. Acaba de ser aprovada a licença-maternidade de 6 meses. Puxa, até que enfim. Mas não vou alcançá-la, infelizmente. Volto, ordenho leite, minha mãe fica com Théo até seus 6 meses de vida, quando ele terá que ir pra creche.
Trabalho meio período. Amo o que faço, ganho um bom salário, saio, vejo gente, vivo um equilíbrio entre a família e a profissão. Mas anda doendo...
E hoje, planejando a festinha de 1 ano do Théo (já!!), que será pequena, nada de festança, eu me vi querendo fazer tudo, como sempre. E então me veio a idéia de fazer um curso de scrapbooking.
Eu sempre faço um monte de coisinhas pro niver da Dandara. Curto demais isso tudo, os papéis, as embalagens, os doces, então porque não fazer eu mesma e bem feito, com técnica, com os acessórios certos? Vou fazer! E quem sabe isso não vira um negócio?
Mas um passo de cada vez. Tô a procura do curso! Volto aqui pra contar!

4:09


Todos os dias acordo por volta das 4:09.

Quando engravidei do Théo, quase todas as noites eu levantava mais ou menos neste horário pra ir ao banheiro ou pra beber água. Quando o barrigão começou a apontar e minha cabeça e meu coração já caminhavam pro parto em casa, eu sentia uma profunda emoção, uma vontade de chorar, era neste horário. No auge do verão e da barriga, eu olhava da janela nessa hora e lá estava a lua bonita, e sentia que meu bebê chegaria neste mundo por volta das 5. Era bem forte, sempre. "e quando o sol dilatar, dar à luz".

Dia 09 de abril de 2010. Há 15 dias estava em pródomos, aquela colicazinha boa na virilha, uma leve dor na lombar, Théo mexendo pouco, e ótimas noites de sono. Dormi muito bem nesta gravidez, diferente da gravidez da Dandara. Cada gravidez é única, assim como cada pessoinha aqui dentro é única.

Eu sentia meu corpo trabalhando, um prazer imenso em cada falsa contração, e imaginava meu parto rápido, sem muita dor.

Eu não tive medo da dor em nenhum momento da gravidez. Tive cólicas gigantes por toda minha vida, então achava que estaria preparada pro que viesse. Por mais que você se prepare, existe um quê de aprendizado, humildade e resignação que só um parto pode te dar, e só na hora você o vê realmente, você vê seus medos mais profundos, você enxerga tua alma, o início da tua vida. Em um momento do meu TP, eu me vi no útero da minha mãe. Me vi me separando da minha mãe, revivi o meu parto, prematuro, aos 7 meses, com 10 dias de uti, sem amamentação, com uma assinatura de termo de responsabilidade pelos meus pais para me retirarem do hospital na marra, com a mais sábia certeza deles que o meu lugar era em casa. Trouxe isso por toda vida, e iniciei uma separação desde que soube que minha mãe não poderia estar presente no meu pós-parto por estar doente e de quarentena. Pari esta separação no meu parto, definitiva, dolorosa, mas necessária. Meu parto doeu.

Quando a gente se empodera, entende que o protagonismo de um parto é da parturiente e do seu bebê, a gente se acha realmente poder-osa. E esse poder te auxilia na hora P, te dá a certeza de que o teu corpo pode, o teu coração quer, o teu bebê precisa.
Foram 8 horas de reconhecimento, readaptação, renascimento, e nascimento do meu bebê.
É transformador. Você vai no fundo de sua existência, de seus monstros, de suas alegrias. Na madrugada do dia 12 de abril às 4:09, Théo chegou neste mundo. E ainda estou parindo. Ainda termino meu relato. Um dia, quem sabe.

ESPELHO

Espelho
João NogueiraComposição: João Nogueira
Nascido no subúrbio nos melhores diasCom votos da família de vida felizAndar e pilotar um pássaro de açoSonhava ao fim do dia ao me descer cansaçoCom as fardas mais bonitas desse meu paísO pai de anel no dedo e dedo na violaSorria e parecia mesmo ser feliz
Eh, vida boaQuanto tempo fazQue felicidade!E que vontade de tocar viola de verdadeE de fazer canções como as que fez meu pai (Bis)
Num dia de tristeza me faltou o velhoE falta lhe confesso que ainda hoje fazE me abracei na bola e pensei ser um diaUm craque da pelota ao me tornar rapazUm dia chutei mal e machuquei o dedoE sem ter mais o velho pra tirar o medoFoi mais uma vontade que ficou pra trás
Eh, vida à toaVai no tempo vaiE eu sem ter maldadeNa inocência de criança de tão pouca idadeTroquei de mal com Deus por me levar meu pai (Bis)
E assim crescendo eu fui me criando sozinhoAprendendo na rua, na escola e no larUm dia eu me tornei o bambambã da esquinaEm toda brincadeira, em briga, em namorarAté que um dia eu tive que largar o estudoE trabalhar na rua sustentando tudoAssim sem perceber eu era adulto já
Eh, vida voaVai no tempo, vaiAi, mas que saudadeMas eu sei que lá no céu o velho tem vaidadeE orgulho de seu filho ser igual seu paiPois me beijaram a boca e me tornei poetaMas tão habituado com o adversoEu temo se um dia me machuca o versoE o meu medo maior é o espelho se quebrar (Bis)

Até onde vai a hipocrisia

É um saco não ter que falar o que se quer. Tô numa fase da maternidade meio letárgica, meio sem paciência de falar o que penso, o que escolhi e sobre meus conceitos tentando desfazer os pré-conceitos que vi e de alguma forma vivi ao longo da vida.
Com queridos amigos que são companheiros mesmo de vida me vejo não colocando o que realmente penso e a minha escolha de parto, falando agora do meu momento atual e próximo a ser vivido. Pô, que hipocrisia, cara! Todos sabem o que eu penso e como vivo, sobre as nossas opções dentro e fora de casa, e dos meus meio termos considerados muitas vezes em cima do muro pelas mais ativistas, e onde eu digo que são sem conceitos. Cada um faz da sua vida o que quiser e acabou.
Eu tô me rendendo? Tô com receio de me confundir, de me deixar levar talvez por não ter a informação e a sensatez que penso que tenho?
Acabo de entender isso... eu quero me privar, sim! Quero viver este momento meu, sem interrupções, sem excesso de realismo idiota que só priva a criatividade e traz uma, sim, isso sim, hipocrisia, padrão, paz sem voz. E não preciso ser fora do padrão, ser diferente, nada disso. Hoje não tenho mais esta necessidade arrebatadora de contestação, de questionamento. Eu sou assim, mas não preciso provar nada pra ninguém. Pombas, tô envelhecendo? Eu penso que não, que tô me fechando neste momento pra me abrir depois. E as experiências são primeiro individuais mesmo, que depois podem se tornar ou não comunitárias, mas quero viver isso por mim, pela minha família primeiro, esta é a diferença entre os anos atrás de movimento e o dia de hoje.
Acabo de entender que o que me move é o questionamento, mas a razão pra isso é que mudou, e isso é fantástico pra mim. O que eu tinha receio era querer que esta experiência fosse minha em primeiro lugar por estar/ser de alguma forma egoísta, este egocentrismo ridículo da sociedade dos anos 90 que cresceu e vive sob a maior hipocrisia de todos os tempos. Eu amadureci, e quero, sim que a minha experiência, a minha vivência possa contribuir de alguma e qualquer forma para os próximos questionamentos, os próximos nascimentos e formas de criar um ser humano, com todos os acertos e erros de percurso, porque o caminho é que é o essencial. Se você vai chegar lá é outra história!!! E porque não chegar??!!! Vou chegar, sim!!! Mas esta experiência é única e respeitada por mim, e quem sabe possa fazer diferença na vida de alguma mamífera. Seria um grande privilégio.
Que a porta esteja aberta a todas nós!!!

38 semanas


Saio de um marasmo literário. Vou parir. É assim que me sinto.
Me parecia ilusório e irreal estar gestando pela segunda vez. Uma sensação estranha de curtir um sonho, uma coisa que parecia não estar vivendo mesmo, parecia estar bêbada, lá pras tantas da madrugada, eu e Edu num bar da esquina.
Sinto que vou parir, e junto desse mar, dessas ondas que chegam, penso que faço o que quero, e deixo meu corpo fazer o que quiser, na hora que quiser, e meu filho chegar do jeito que quiser, pós-moderno, tropicalista, ou sem rótulo, sem esquemas, sem hora nem lugar.
Desenhar riscos, curvas e sons coloridos, livres, generosos e sem ditaduras. Não poderia querer diferente do que sempre fui. Parir de qualquer jeito, no som da vida, sem regras ou padrões, aquariana e do ar, sem mastigações e regressões. "Grávida de chão, e vou parir sobre a cidade, quando a noite contrair, e quando o sol dilatar, DAR A LUZ". Me dar a luz.
Venha filho, na sua hora, com sua luz iluminar nossa casa, nosso chão. Te aguardamos com muito amor e paz.