4:09


Todos os dias acordo por volta das 4:09.

Quando engravidei do Théo, quase todas as noites eu levantava mais ou menos neste horário pra ir ao banheiro ou pra beber água. Quando o barrigão começou a apontar e minha cabeça e meu coração já caminhavam pro parto em casa, eu sentia uma profunda emoção, uma vontade de chorar, era neste horário. No auge do verão e da barriga, eu olhava da janela nessa hora e lá estava a lua bonita, e sentia que meu bebê chegaria neste mundo por volta das 5. Era bem forte, sempre. "e quando o sol dilatar, dar à luz".

Dia 09 de abril de 2010. Há 15 dias estava em pródomos, aquela colicazinha boa na virilha, uma leve dor na lombar, Théo mexendo pouco, e ótimas noites de sono. Dormi muito bem nesta gravidez, diferente da gravidez da Dandara. Cada gravidez é única, assim como cada pessoinha aqui dentro é única.

Eu sentia meu corpo trabalhando, um prazer imenso em cada falsa contração, e imaginava meu parto rápido, sem muita dor.

Eu não tive medo da dor em nenhum momento da gravidez. Tive cólicas gigantes por toda minha vida, então achava que estaria preparada pro que viesse. Por mais que você se prepare, existe um quê de aprendizado, humildade e resignação que só um parto pode te dar, e só na hora você o vê realmente, você vê seus medos mais profundos, você enxerga tua alma, o início da tua vida. Em um momento do meu TP, eu me vi no útero da minha mãe. Me vi me separando da minha mãe, revivi o meu parto, prematuro, aos 7 meses, com 10 dias de uti, sem amamentação, com uma assinatura de termo de responsabilidade pelos meus pais para me retirarem do hospital na marra, com a mais sábia certeza deles que o meu lugar era em casa. Trouxe isso por toda vida, e iniciei uma separação desde que soube que minha mãe não poderia estar presente no meu pós-parto por estar doente e de quarentena. Pari esta separação no meu parto, definitiva, dolorosa, mas necessária. Meu parto doeu.

Quando a gente se empodera, entende que o protagonismo de um parto é da parturiente e do seu bebê, a gente se acha realmente poder-osa. E esse poder te auxilia na hora P, te dá a certeza de que o teu corpo pode, o teu coração quer, o teu bebê precisa.
Foram 8 horas de reconhecimento, readaptação, renascimento, e nascimento do meu bebê.
É transformador. Você vai no fundo de sua existência, de seus monstros, de suas alegrias. Na madrugada do dia 12 de abril às 4:09, Théo chegou neste mundo. E ainda estou parindo. Ainda termino meu relato. Um dia, quem sabe.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, tô emocionada... Não vejo a hora de engravidar de novo para passar por isso! Encorajador!!!
Obrigada por compartilhar algo tão tocante!
Abraço
Sofia

Rê, Renatinha, Renata Lúcia, Rezinha, Renascida disse...

Sofia,
é lindo e transformador!
Luz na sua caminhada!
Grande abraço!
Renata