Até onde vai a hipocrisia

É um saco não ter que falar o que se quer. Tô numa fase da maternidade meio letárgica, meio sem paciência de falar o que penso, o que escolhi e sobre meus conceitos tentando desfazer os pré-conceitos que vi e de alguma forma vivi ao longo da vida.
Com queridos amigos que são companheiros mesmo de vida me vejo não colocando o que realmente penso e a minha escolha de parto, falando agora do meu momento atual e próximo a ser vivido. Pô, que hipocrisia, cara! Todos sabem o que eu penso e como vivo, sobre as nossas opções dentro e fora de casa, e dos meus meio termos considerados muitas vezes em cima do muro pelas mais ativistas, e onde eu digo que são sem conceitos. Cada um faz da sua vida o que quiser e acabou.
Eu tô me rendendo? Tô com receio de me confundir, de me deixar levar talvez por não ter a informação e a sensatez que penso que tenho?
Acabo de entender isso... eu quero me privar, sim! Quero viver este momento meu, sem interrupções, sem excesso de realismo idiota que só priva a criatividade e traz uma, sim, isso sim, hipocrisia, padrão, paz sem voz. E não preciso ser fora do padrão, ser diferente, nada disso. Hoje não tenho mais esta necessidade arrebatadora de contestação, de questionamento. Eu sou assim, mas não preciso provar nada pra ninguém. Pombas, tô envelhecendo? Eu penso que não, que tô me fechando neste momento pra me abrir depois. E as experiências são primeiro individuais mesmo, que depois podem se tornar ou não comunitárias, mas quero viver isso por mim, pela minha família primeiro, esta é a diferença entre os anos atrás de movimento e o dia de hoje.
Acabo de entender que o que me move é o questionamento, mas a razão pra isso é que mudou, e isso é fantástico pra mim. O que eu tinha receio era querer que esta experiência fosse minha em primeiro lugar por estar/ser de alguma forma egoísta, este egocentrismo ridículo da sociedade dos anos 90 que cresceu e vive sob a maior hipocrisia de todos os tempos. Eu amadureci, e quero, sim que a minha experiência, a minha vivência possa contribuir de alguma e qualquer forma para os próximos questionamentos, os próximos nascimentos e formas de criar um ser humano, com todos os acertos e erros de percurso, porque o caminho é que é o essencial. Se você vai chegar lá é outra história!!! E porque não chegar??!!! Vou chegar, sim!!! Mas esta experiência é única e respeitada por mim, e quem sabe possa fazer diferença na vida de alguma mamífera. Seria um grande privilégio.
Que a porta esteja aberta a todas nós!!!

38 semanas


Saio de um marasmo literário. Vou parir. É assim que me sinto.
Me parecia ilusório e irreal estar gestando pela segunda vez. Uma sensação estranha de curtir um sonho, uma coisa que parecia não estar vivendo mesmo, parecia estar bêbada, lá pras tantas da madrugada, eu e Edu num bar da esquina.
Sinto que vou parir, e junto desse mar, dessas ondas que chegam, penso que faço o que quero, e deixo meu corpo fazer o que quiser, na hora que quiser, e meu filho chegar do jeito que quiser, pós-moderno, tropicalista, ou sem rótulo, sem esquemas, sem hora nem lugar.
Desenhar riscos, curvas e sons coloridos, livres, generosos e sem ditaduras. Não poderia querer diferente do que sempre fui. Parir de qualquer jeito, no som da vida, sem regras ou padrões, aquariana e do ar, sem mastigações e regressões. "Grávida de chão, e vou parir sobre a cidade, quando a noite contrair, e quando o sol dilatar, DAR A LUZ". Me dar a luz.
Venha filho, na sua hora, com sua luz iluminar nossa casa, nosso chão. Te aguardamos com muito amor e paz.